sábado, 1 de dezembro de 2012

Ética e Serviço Público


                                       

MÓDULO 1 – CONCEITOS BÁSICOS

 
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO DO CURSO ..................................................................................................... 3
OBJETIVOS DO CURSO ............................................................................................................... 3
MÓDULO 1 – CONCEITOS BÁSICOS ................................................................................................ 4
OBJETIVOS DO MÓDULO .......................................................................................... 4
1.1. POR QUE ESTAMOS DISCUTINDO ÉTICA? ......................................................... 5
1.2. O MÉRITO DA AÇÃO: INTENÇÃO E JUÍZO DESINTERESSADO ........................... 6
1.3. ESCOLHA E DELIBERAÇÃO................................................................................ 12
1.4. VIRTUDES E CARÁTER ...................................................................................... 16
1.5. AUTONOMIA E RESPONSABILIDADE................................................................. 18
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ................................................................................ 19

APRESENTAÇÃO DO CURSO
O curso Ética e Serviço Público foi desenvolvido como parte do Projeto EuroBrasil 2000 e destina-se a homogeneizar os conhecimentos dos participantes sobre os fundamentos da Ética e sobre os desafios do serviço público. O pressuposto dessa iniciativa é que a excelência do exercício profissional é  garantida não apenas pela competência técnica, mas também pelo estímulo ao discernimento moral.
O desenvolvimento de uma consciência ética é elemento fundamental para comprometer os
agentes públicos com o respeito à cidadania, ao estado de direito e à consolidação da democracia.

OBJETIVOS DO CURSO
Ao final do curso, espera-se que você seja capaz de:
· Reconhecer a dimensão ética de sua vida profissional; e
· Considerar a dimensão ética na resolução de problemas no serviço público.

MÓDULO 1 – CONCEITOS BÁSICOS
OBJETIVOS DO MÓDULO
Ao final desse módulo, você deverá ser capaz de:
· Contextualizar a discussão sobre Ética na atuação profissional no serviço público;
· Conceituar Ética, considerando seus aspectos cognitivos, exemplificando;
· Apontar a implicação da intenção e do juízo desinteressado na atribuição de mérito à ação;
· Distinguir escolha de deliberação na dimensão do agir ético;
· Definir virtude e caráter, relacionando-os;
· Descrever autonomia e responsabilidade no contexto ético.
Neste módulo você terá contato com conceitos básicos de ética e com o significado da
“dimensão moral ou ética” da existência. Os assuntos abordados aqui são:
· Por que estamos discutindo ética?
· O mérito da ação: intenção e Juízo desinteressado
· Escolha e deliberação
· Virtudes e caráter
· Autonomia e responsabilidade

1.1. POR QUE ESTAMOS DISCUTINDO ÉTICA?
 DO MORALISMO À MORALIDADE
Durante as décadas de 1960 e 1970, o discurso político que enfatizava a moral e os bons costumes vinha associado a idéias conservadoras. Defendê-los era defender valores sedimentados na sociedade, tidos como essenciais à manutenção da ordem estabelecida.
Por outro lado, os que abraçavam idéias progressistas ou de mudança social tendiam a entender essa ênfase como um moralismo antiquado, sem muito propósito e, especialmente, como uma forma de controle ideológico da contestação.
Aquele foi um período de grande choque entre o passado e o futuro, a tradição e a mudança, que afetou não só as instituições políticas, mas especialmente a família e a religião. Os reflexos foram significativos nos costumes sexuais, no modo de se vestir, nas artes e em tantas outras dimensões da vida.
Essa polarização deixava pouco espaço para se pensar a ética como uma importante dimensão da existência humana.
Vivemos hoje um contexto bem diferente. De certa forma, as instituições que eram criticadas por seu conservadorismo e pela defesa de um moralismo rígido foram capazes de absorver parte das práticas e dos significados da crítica social daquele período, ainda que um tanto esvaziados de seu conteúdo.
Essa mudança é muito visível no que diz respeito aos costumes sexuais: o que era, então, considerado excepcional tornou-se corriqueiro e quase um padrão comportamental. É como se, de fato, aquele antigo moralismo conservador tivesse se transformado em peça de museu.
Algo semelhante ocorreu nos modos de se vestir, na música e, pelo menos em parte, na família e na religião, que tiveram de se adaptar aos novos tempos, flexibilizando – na prática, quando não no discurso – os padrões rígidos recomendados aos seus membros.
Embora certas práticas sociais inovadoras tenham ganhado terreno, e a própria idéia de “contestação” tenha conquistado ampla aceitação social, isso não representou um estado de
amoralidade ou descrédito do discurso ético. Assiste-se hoje a uma forte preocupação com a
dimensão ética da vida social em todos os campos, especialmente na interação entre
economia e política, e no exercício das funções públicas.
Curiosamente, percebe-se uma mudança na antiga polarização ideológica centrada no
moralismo, sobre a qual falamos no início deste módulo: enquanto parte do discurso e da
prática conservadora continua, como no passado, apegada firmemente à rigidez moral,

associando, como nunca, a ética com a tradição e a ordem estabelecida, outra parte tende, não
só a deixar de lado esse moralismo tradicional, mas também a assumir uma atitude cada vez
mais flexível e pragmática em relação a princípios e valores éticos.
Por sua vez, muitos dos que se sentem comprometidos com o discurso e a prática
contestatória têm se dado conta da importância dos princípios e valores éticos. Hoje tanto
conservadores quanto progressistas reconhecem que a perspectiva da mudança social e a
consciência ética não são opções conflitantes.
Pode-se dizer que as sociedades contemporâneas, independente das inclinações políticoideológicas
da maioria de seus cidadãos, têm demonstrado uma inédita abertura para refletir
seriamente sobre os pressupostos éticos de sua existência, problematizando, dessa maneira,
seus costumes, regras formais e práticas informais.
Essa abertura acaba repercutindo nas instituições públicas, tanto nas de representação quanto
nas de administração. Como resultado, vemos os representantes eleitos e os profissionais da
administração pública sensibilizados com as preocupações de ordem moral das comunidades a
que servem, e preocupados em atender as demandas de ordem ética da sociedade.
É muito apropriado, portanto, a quem pretende aprimorar sua atuação profissional nos diversos
setores do serviço público, identificar e compreender o que significa a dimensão moral ou ética
da existência.
1.2. O MÉRITO DA AÇÃO: INTENÇÃO E JUÍZO DESINTERESSADO
 O QUE QUEREMOS DIZER QUANDO AFIRMAMOS QUE A EXISTÊNCIA HUMANA TEM UMA
DIMENSÃO ÉTICA OU MORAL?
Certas correntes da filosofia costumam distinguir os campos da Ética e da Moral. Filósofos
alemães, por exemplo, freqüentemente distinguem as práticas, regras ou costumes de uma
comunidade específica (o campo da moral), dos princípios formais, e supostamente de caráter
universal, implicados na consciência do dever (o campo da ética propriamente dito).
Outras correntes preferem não fazer essa distinção. Etimologicamente, os dois termos têm
significados semelhantes: “ética” vem do grego ethos, e “moral” do latim mos, ambos
significando “uso” ou “costume”. Embora esclarecedora para certos propósitos, essa distinção
não será relevante para o nosso curso.

 AÇÕES DO HOMEM E FENÔMENOS DA NATUREZA
Assim como os fenômenos da natureza (movimentos das rochas, dos mares e dos planetas,
etc.), as ações humanas também modificam o mundo. Contudo, esses dois tipos de eventos -
naturais e humanos - são apreciados por nós de formas completamente distintas.
Quando se trata de uma ação humana, por exemplo um roubo praticado por alguém, fazemos
não apenas uma avaliação moral do aspecto exterior, visível, do evento (a apropriação
indevida de algo que pertence a outra pessoa), mas principalmente uma avaliação moral do
sentido dessa ação para o agente que a pratica, em um esforço para compreender as suas
intenções.
Quando, porém, se trata de um fenômeno da natureza, como uma acomodação de placas da
crosta terrestre que causa terremotos na superfície do planeta, essa avaliação moral não
ocorre, exatamente porque não há como atribuir uma intenção àquela força.
A ética envolve um processo avaliativo especial sobre o modo como os seres humanos
intervêm no mundo ao seu redor, principalmente quando se relacionam com os seus
semelhantes.
Vamos a um exemplo: não é incomum vermos na imprensa denúncias contra agentes públicos
que se apropriam indevidamente de recursos do Estado, prejudicando, assim, investimentos
nas políticas públicas e atendimento das demandas sociais.
Muitas catástrofes naturais, em sua manifestação exterior e visível, provocam destruição e
morte. São freqüentes as notícias de terremotos, tempestades e furacões que devastam
cidades inteiras, causando um número grande de vítimas. Porém, a repulsa e a indignação
com o desvio de verbas públicas é muito mais significativo.
QUAL A DIFERENÇA?
Ocorre que, no caso do desvio de verbas, levamos em conta não só o seu aspecto exterior –
as obras públicas e assistências que deixaram de ser feitas – mas, especialmente, a
intencionalidade dos agentes.
Quando atribuímos a essa intencionalidade uma de qualidade negativa – dizemos “má”,
“perversa”, “torpe” etc. - tal qualidade afeta a percepção que temos do agente. Não fazemos
essa mesma avaliação quando se trata de terremotos e furacões, e isso diminui o choque que
eles nos provocam, mesmo que causem muito mais morte e destruição.

O inverso é igualmente válido: ações humanas às quais atribuímos uma intenção positiva, e
que resultam em algo considerado como bom, correto e construtivo, causam em nós um
impacto muito mais sublime do que eventos naturais benéficos à humanidade.
VAMOS A MAIS UM EXEMPLO.
No final de 2006, uma notícia divulgada nos noticiários chamou a atenção da opinião pública:
um gari de uma cidade do interior brasileiro encontrou no lixo, ao varrer uma rua, perto de 12
mil reais em dinheiro e os devolveu ao dono.
O gesto do humilde servidor público mereceu a nossa admiração, recebeu uma avaliação
moral positiva e foi mostrado como “uma vitória dos valores éticos”. Não fazemos esse tipo de
avaliação com relação à chuva que cai na época do plantio, favorecendo o ciclo produtivo da
agricultura e a produção de alimentos.
Concluímos, então, que, independentemente do resultado de cada uma delas, as ações
humanas são avaliadas de maneira bem diferente das intervenções dos fenômenos naturais.
Apenas as ações humanas recebem uma avaliação moral. E esse processo avaliativo diz
respeito ao mérito ou demérito do agir humano. São as atribuições de mérito ou demérito que
concedem à ação um valor: o valor moral.
Explicando melhor: o mérito de uma ação humana diz respeito ao valor moral positivo dessa
ação; o demérito, por sua vez, diz respeito às ações humanas que possuem um valor moral
negativo.
Nas crenças religiosas de civilizações remotas, costumava-se atribuir significados éticos a
catástrofes naturais.
Fazia-se essa avaliação moral, quanto ao seu mérito ou demérito, exatamente porque se
supunha que tais eventos eram provocados por “deuses” ou “espíritos” que possuíam
características humanas, o que levava a imaginar que a “fúria” das catástrofes advinha da fúria
desses entes antropomorfizados (com forma humana).
Nossa civilização tem hoje outra compreensão da relação entre o homem e o transcendente.
Vamos ficar então apenas com a avaliação moral das ações humanas. Veremos que há uma
outra classificação que tem a ver com a intenção desse agir humano.

 A INTENÇÃO DA AÇÃO HUMANA
Um evento humano acidental carrega um impacto moral muito diferente de um evento
planejado. Essa distinção encontra-se na prática do direito e é considerada na diferença entre
crime doloso (com intenção) e crime culposo (sem intenção).
A comparação a seguir entre dois trágicos eventos que chocaram a opinião pública, nos ajuda
entender que a avaliação moral de um evento decorre menos dos efeitos da ação humana e
mais da intencionalidade de quem a pratica.
Em 31.10.2002, em São Paulo, uma jovem de 19 anos, seu namorado e o irmão deste
planejaram e assassinaram os pais da jovem com golpes de barras de ferro.
Em 17.07.2007, um acidente aéreo em São Paulo, no aeroporto de Congonhas, provocou a
morte de 199 pessoas. Foi o pior acidente aéreo da história da América Latina.
Embora os dois eventos tenham mobilizado e sensibilizado a opinião pública, a avaliação moral
de cada um desses tristes acontecimentos é completamente diferente. Enquanto a morte do
casal foi cruelmente planejada e executada, o acidente aéreo, quer tenha sido fruto de
negligência, imperícia ou imprudência, certamente ocorreu sem qualquer intenção.
O frio assassinato suscitou repulsa e revolta. O acidente aéreo gerou comoção e muita
solidariedade aos parentes das vítimas. O Presidente da República decretou 3 dias de luto
oficial no País, e vários países manifestaram seu pesar pelo ocorrido.
Pode-se atribuir valor – positivo ou negativo – ao próprio gesto acidental, sem intenção, se for
percebido como subproduto de uma atitude prévia, “negligente” ou “prudente”.
Ainda assim, porém, essa avaliação tende a ter menor impacto do que uma atitude
perfeitamente consciente e premeditada que tenha relação direta com o evento “bom” ou “ruim”
produzido.
 VALOR MORAL E PONTO DE VISTA DESINTERESSADO
Além da intenção, há um segundo aspecto que caracteriza bem a moralidade como um
processo avaliativo especial. Trata-se do ponto de vista desinteressado.
Mas o que é o ponto de vista desinteressado?
Quando avaliamos o mérito da ação, nos esforçamos para ser imparciais não levando em
conta se ela nos prejudica ou nos beneficia. Procuramos desconsiderar se aquele gesto
promove ou não nosso próprio interesse.

Claro que os seres humanos são fortemente motivados por impulsos egoístas e interessados; e
que esses impulsos não raro interferem em nossa capacidade de avaliar o gesto alheio.
Mesmo assim é característico da avaliação moral analisar o mérito ou demérito de uma ação
independente do fato de beneficiar ou prejudicar essa ou aquela pessoa.
Veja como fenômenos corriqueiros indicam a presença de uma sensibilidade moral, ainda que,
de uma forma sutil.
Por exemplo: é essa sensibilidade que nos faz pensar que um adversário em uma competição
é moralmente “decente”, ainda que ele venha a nos vencer (e portanto, nos prejudicar) nessa
competição.
É isso, também, que faz o torcedor de um time chegar à conclusão que os jogadores do time
adversário são “honestos”, mesmo que venham a superar o time de seu coração.
Concluindo: pode-se admitir que a sensibilidade moral é geralmente menos intensa do que as
reações que vêm do interesse próprio ou de emoções como a ira, a inveja ou o ciúme. Mas,
insistimos, a sensibilidade moral é suficientemente sólida para orientar as exigências de
imparcialidade para o mérito alheio, fundamentais para sustentar o que chamamos aqui de
dimensão moral da existência.
Muitos aspectos da vida social – talvez mesmo o próprio viver comunitário – seriam
simplesmente inimagináveis, não fosse essa capacidade de fazer juízos morais,
desinteressados, a respeito do que fazem outras pessoas ou comunidades.
 O SENSO E JUÍZO MORAIS
Um filósofo escocês do século dezoito – David Hume – dedicou-se longamente a estudar as
peculiaridades do ponto de vista moral e a criticar os que supunham que este ponto de vista
poderia ser reduzido a uma perspectiva egoísta ou parcial.
Em seu livro mais famoso a respeito – Uma Investigação sobre os Princípios da Moral
(Campinas: ed. UNICAMP, 1996) – Hume destaca precisamente o tipo de juízo que está em
jogo quando fazemos avaliações morais.
“Freqüentemente dedicamos elogios a ações virtuosas realizadas em épocas muito distantes e
em países remotos, casos em que a máxima sutileza da imaginação não conseguiria revelar
qualquer vestígio de interesse próprio ou encontrar qualquer conexão entre nossa felicidade e
segurança presentes e eventos tão amplamente separados de nós.

Um feito generoso, nobre e corajoso realizado por um adversário granjeia nossa admiração,
ainda que possa ser reconhecido, por suas conseqüências, como prejudicial a nossos
interesses particulares.
Nos casos em que vantagem privada se combina com a afeição geral pela virtude, nós
prontamente percebemos e confessamos a mistura desses sentimentos distintos, cuja atuação
e influência sobre o espírito são muito diferentes. [...]
Construa-se o modelo de um caráter digno de todos os elogios, composto de todas as mais
estimáveis virtudes morais; citem-se exemplos nos quais estas se manifestam do modo mais
esplêndido e extraordinário – conquistar-se-á prontamente, neste caso, a estima e a aprovação
de todos os ouvintes, que não irão indagar sequer uma vez em que época ou país viveu essa
pessoa, apesar de ser essa informação, dentre todas, a mais importante do ponto de vista do
interesse próprio ou preocupação com a própria felicidade individual.[...]
'QUE TEM ISSO A VER COMIGO?'
Há poucas ocasiões em que essa pergunta não é pertinente; e se ela tivesse a influência
universal e infalível que lhe é atribuída, tornaria ridículos todos os discursos e quase todas as
conversas que contivessem algum louvor ou repreensão de pessoas ou costumes.” (pp.80- 1)
O filósofo alerta também que a avaliação moral não é apenas uma questão de sentimento.
“Dedicamos sempre uma consideração mais apaixonada a um estadista ou patriota que serve
nosso próprio país em nossa própria época do que a um outro cuja influência benéfica operou
em eras remotas ou nações distantes, nas quais o bem resultante de sua generosa
benevolência, estando menos relacionado conosco, parece-nos mais obscuro e nos afeta com
uma simpatia menos vivida. Podemos reconhecer que o mérito é igualmente grande em ambos
os casos, embora nossos sentimentos não se elevem à mesma altura.” (p..95)
A avaliação moral mobiliza também a razão, que procura corrigir um eventual desequilíbrio dos
sentimentos.
“Aqui, o juízo corrige a parcialidade de nossas emoções e percepções internas, do mesmo
modo que protege do erro diante de muitas variações das imagens apresentadas aos nossos
sentidos externos.” (p.95)

 RAZÃO, EMOÇÃO E A AVALIAÇÃO MORAL
A que se deve essa capacidade de atribuir mérito e demérito às nossas ações, que como
vimos, envolve a intenção e o juízo desinteressado?
Desde a Antiguidade Grega e Romana, os filósofos se dividem sobre a questão.
Alguns atribuíam a origem de nossas avaliações morais a uma faculdade racional pura,
completamente livre de nossos desejos e emoções, capaz de determinar máximas universais
para nossos atos, qualificando-os então como dignos de mérito.
Outros, como o próprio Hume, citado anteriormente, pensavam que a razão é apenas um fator
subsidiário do juízo moral, que de resto opera graças a uma capacidade inata que possuímos
de compartilhar as misérias e as alegrias alheias.
Mais recentemente, outros posicionamentos teóricos despontaram. Por exemplo...
Concepções que remetem a moralidade à condição intrinsecamente social do ser humano e
concepções que têm em conta o caráter prático da linguagem humana.
A linguagem, nestas concepções, não apenas tem a função de representar o mundo, mas é
uma forma de agir. Uma das visões mais influentes, nesse campo, é a Teoria da Ação
Comunicativa do Filósofo alemão J. Habermas.
Apesar das divergências entre as correntes filosóficas, todas reconhecem a ética como uma
dimensão especial da vida – isso, tanto para lhe dar significado existencial mais profundo,
quanto para preservar e aprimorar (por meio da política) a própria vida comunitária.
1.3. ESCOLHA E DELIBERAÇÃO
Até aqui falamos pouco dos aspectos cognitivos da ética. Contudo, o agir moral é um tipo de
atividade inteligente das mais complexas.
 ESCOLHA
A escolha é o momento final – e o mais visível – de uma reflexão que a precede.
O QUE SIGNIFICA A ESCOLHA?
A rigor, a escolha só existe quando estamos diante de alternativas, pois com apenas um
caminho a seguir não haveria escolha.

O processo avaliativo da ética depende de que se façam certas coisas que não são tomadas
como inevitáveis. Não haveria mérito em uma ação obrigatória, ou seja, que não pode ser
evitada.
É a partir das comparações com o que as pessoas poderiam ter feito, mas acabaram não
fazendo, que se chega a um juízo sobre o mérito ou demérito.
 DELIBERAÇÃO
A moralidade supõe uma estrutura do mundo em que pelo menos uma parte dos eventos não
está submetida a uma “necessidade férrea”. Esta expressão refere-se às condições
necessárias que levam um evento a acontecer, obrigatoriamente, de determinada forma. Nesse
caso, essas condições não podem ser modificadas e delas ninguém pode escapar.
Conforme dissemos anteriormente, se todos os eventos fossem inevitáveis, ou seja,
submetidos a uma “necessidade férrea”, a escolha não seria apenas impensável, mas inútil.
Tratando-se, então, de uma situação em que nos vemos diante de mais de um caminho a
seguir, a escolha exigirá uma introspecção prévia, uma reflexão, que vai não só definir a
intenção do agir, mas desencadear um processo de amadurecimento quanto à decisão a ser
tomada. Essa etapa é chamada de deliberação.
A ação que provocará uma intervenção no mundo, a modificação de um estado de coisas,
requer esse tempo de gestação interna que é a deliberação. É como se a escolha tivesse que
crescer e amadurecer dentro de nós antes de ser exposta ao mundo visível.
 O PROBLEMA DO ACASO
De acordo com o que discutimos antes, muitos eventos estão submetidos à chamada
“necessidade férrea”. Mas, há também acontecimentos completamente imprevisíveis e não
submetidos a qualquer necessidade reconhecida. São eventos incertos e indeterminados, que
estão completamente à mercê do acaso.
Diante dessas situações cujo resultado depende da “sorte” ou do “azar”, não é possível a
deliberação e a escolha.

 ENTRE A NECESSIDADE E O ACASO
Embora os eventos submetidos à “necessidade férrea” ou ao acaso não dependam de nós, há
outros em que a deliberação e a escolha poderão e deverão ser exercidas a partir de nossa
atividade inteligente e premeditada. A ação humana em geral, e o agir moral em particular,
situam-se nesse meio termo entre a necessidade férrea e o acaso total.
Para que a ética seja de fato uma dimensão significativa de nossas vidas, precisamos estar
convictos de que a deliberação e a escolha fazem uma grande diferença no resultado final, isto
é, que o mundo seria muito distinto do que é, se o deixássemos seguir seu curso sem a nossa
interferência consciente.
 MEIOS E FINS
Vejamos agora como o agir moral representa um campo privilegiado da deliberação e da
escolha.
Toda a ação visa a objetivos, “metas” ou “fins”, que se colocam para nós no contexto de um
plano de ação.
Porém, o plano não pode se limitar à meta ou fim. Há etapas intermediárias no caminho e cada
etapa correspondendo a um “meio” ou “recurso” para se atingir o “fim” almejado. O plano exige
uma reflexão sobre esses níveis distintos de um mesmo processo – os “fins” da ação e os
“meios” para alcançá-los.
Em resumo, temos os seguintes problemas sobre os quais deliberar e escolher:
· a determinação das metas (ou fins);
· o discernimento de todos os meios que tornariam aquelas metas realizáveis; e
· a própria seleção dos meios que consideramos adequados, entre os vários que
podemos mobilizar.
FALANDO MAIS SOBRE O VÍNCULO ENTRE MEIOS E FINS...
Um fim tem que ser algo que desejamos, porém sempre pode haver mais de uma opção.
Vejamos:
1) Posso desejar algo, mas chegar à conclusão de que os meios para alcançá-lo estão
fora de meu alcance;
2) Posso desejar algo perfeitamente alcançável, mas que eu mesmo não o considero
apropriado do ponto de vista moral;
3) Posso desejar algo moralmente apropriado, mas pensar que certos meios disponíveis
para alcançá-los são inapropriados.

OBSERVE...
Em (1), o fim planejado não pode estar descolado de uma avaliação da capacidade de realizálo:
se acho que não há meios disponíveis que me levem àquele fim, devo reconsiderar a
própria meta.
Em (2) e (3), a questão do mérito ou demérito da ação já qualifica de um modo especial as
opções. Eu tenho certas opções ao meu alcance, sei que elas poderiam acontecer se assim o
desejasse, mas a percepção de um demérito nela me leva a cogitar uma espécie de veto
interno.
O veto interno é independente de qualquer coação externa, de ordem física ou legal, que possa
eventualmente impedir ou dificultar o exercício da opção.
POR QUE FAZEMOS O VETO?
As alternativas que vetamos estão ao nosso dispor, apenas recusamos procurá-las,
simplesmente porque consideramos seus fins, ou seus meios, indignos daquilo que
valorizamos moralmente.
Por que, apesar de serem momentos de um mesmo processo, insistimos na distinção entre a
deliberação e a escolha?
A deliberação é um raciocínio ou meditação sobre alternativas. Como essa meditação não é da
ordem de uma demonstração, não temos como saber se sua conclusão é verdadeira.
Sendo de um resultado incerto, a meditação poderia prosseguir indefinidamente, não fosse por
uma questão: É PRECISO AGIR.
O término da deliberação não está inscrito no próprio raciocínio – como é o caso de uma
demonstração matemática – mas advém do fato de que a ação é prática. Ela visa uma
intervenção no mundo.
A intervenção possui um tempo oportuno, antes ou depois do qual ela se torna inútil. Por causa
das pressões de caráter prático, surgirá um momento em que a reflexão terá que ser
encerrada, mesmo que permaneçam dúvidas a respeito da opção a ser feita.
“SE NÃO ESCOLHERMOS, SEREMOS ESCOLHIDOS”
Entre a deliberação e a ação subseqüente no mundo há um fosso que somos obrigados a
transpor. Não fosse por isso, poderíamos continuar oscilando indefinidamente a respeito das
alternativas. Entretanto, isso é impossível na prática, pois... CHEGARÁ O MOMENTO DA ESCOLHA.

1.4. VIRTUDES E CARÁTER
O problema da escolha, como algo distinto da deliberação, já sugere que a ética não se
resume a uma questão de inteligência, de capacidade cognitiva. É preciso, além da natureza
inteligente da ação moral, disposição para agir conforme a direção apontada pelo intelecto.
Esse ponto remete às virtudes.
Muitos obstáculos se colocam adiante do plano meditado na consciência. Devemos, é claro,
considerar o mundo ao redor: o mundo físico e também o mundo constituído por outras
pessoas, que podem resistir ou colaborar.
Mas não é só isso. Nós somos seres complexos, ou seja, não podemos ser resumidos apenas
ao nosso intelecto, ou capacidade cognitiva. Outras faculdades desse complexo entram em
jogo quando decidimos modificar o mundo por intermédio de nossas ações: o corpo, as
emoções, os desejos...
 O QUE É PRECISO PARA SE CHEGAR À VIRTUDE?
É preciso que as intenções do intelecto estejam bem articuladas a essas outras faculdades
(emoções, desejos, etc.). Em seu conjunto, essas partes engrenadas dispõem as pessoas a
agir de uma determinada maneira, e não de outra. Essas disposições dão consistência prática,
e não apenas cognitiva, aos nossos planos de vida.
Se são virtudes, falamos de disposições “corretas”, “adequadas” ou “excelentes”. Se são vícios,
falamos de disposições “erradas”, “inadequadas” ou “ruins”. Virtude e mérito podem ser
considerados em diferentes graus.
VEJAMOS:
Posso desejar algo e, no entanto, carecer da força de vontade para buscar o objeto desejado.
Ou posso pretender reagir de certa maneira quando o momento exigir, mas simplesmente não
conseguir fazê-lo quando chagar o momento. Por exemplo, costuma-se dizer que a coragem é
uma virtude. Porém, não basta qualificá-la como mérito, considerá-la um valor, para nos
dotarmos dessa virtude.
Ainda que a coragem seja desejável, e a desejemos genuinamente, é bem possível que não
consigamos ser corajosos quando as circunstâncias assim o exigirem.
Como adquirimos as virtudes? Adquirimos as virtudes por HÁBITO.

O hábito é mais do que o gesto que se repete automaticamente. No caso da virtude, trata-se de
um longo esforço acompanhado de intensa concentração que, juntos, nos tornam aptos a fazer
coisas que consideramos desejáveis e moralmente corretas ou nobres.
 O CARÁTER
Na verdade, NÃO EXISTE UMA VIRTUDE, MAS VÁRIAS. Uma pessoa encerra em si mesma
uma mistura de disposições, que lidam com as diferentes partes da engrenagem da ação.
Algumas dessas disposições podem ser, em diferentes graus, virtudes ou vícios
Podemos ser corajosos, mas imprudentes; medrosos, porém honestos, e assim por diante. É
pouco provável que uma pessoa consiga reunir todas as boas disposições imagináveis, e
menos ainda no seu grau mais elevado. Ninguém é perfeito.
A complexa mistura de disposições numa personalidade vai constituir o que chamamos de
CARÁTER.
Quando julgamos o caráter de alguém, não avaliamos uma página ou um breve capítulo de sua
vida. Fazemos um balanço do conjunto da obra até ali. Não dizemos que tal sujeito “é honesto”
apenas porque foi honesto em determinada ocasião. Precisamos saber se aquele gesto
representa um aspecto mais ou menos estável de sua personalidade. Se sua vida pregressa
confirma essa impressão, então dizemos que a honestidade é um traço de seu caráter.
Somos propensos a dar mais peso moral a um caráter virtuoso – talvez por causa de seus
efeitos duradouros para o convívio – do que a um gesto virtuoso ocasional.
O PAPEL DA EDUCAÇÃO
Não nascemos prontos para a vida: os grupos a que pertencemos – por exemplo, a família, com nossos
pais, e a comunidade política, com suas autoridades – encarregam- se de completar aquilo que a
natureza deixou em aberto.
Antes mesmo de chegar à idade adulta, adquirimos certos hábitos, alguns dos quais difíceis de serem
alterados depois.
Assim, parte não desprezível de nossa capacidade para deliberar e escolher em sentido pleno, e que
sempre acompanha as virtudes, é fruto de uma herança que recebemos pela educação. Com ela se
transmite conhecimentos, mas também se forma o caráter. Isso dá à Educação uma incontornável
dimensão ética.
E se cremos, como hoje, que a escola é uma das instituições mais importantes da sociedade e que a
educação é um dever do Estado, imediatamente essa dimensão transforma-se numa questão política da
mais alta relevância.

1.5. AUTONOMIA E RESPONSABILIDADE
 AUTONOMIA
Autonomia é a condição que nos torna autores da ação, ou seja, livres para governar a nós
mesmos e para fixar nossas próprias regras de vida.
Tão logo nos reconhecemos como autores, passamos a ver nossos atos fora de uma cadeia
contínua de causas e efeitos que, de outro modo, seriam simples elos dessa cadeia, apagando
a nossa autoria.
Ser autor de algo é ser capaz de iniciá-lo de forma independente e livre, isto é, de acordo com
a própria vontade, e não apenas por causa de força alheia, ainda que essa força possa ser
favorável a minha vontade.
KANT E A AUTONOMIA
Há muita discussão filosófica sobre o fundamento da autonomia. Em uma das elaborações mais
influentes, Immanuel Kant, o famoso filósofo alemão, pensou poder justificá-la pela noção de uma
vontade inteiramente livre não só de causas externas, mas até mesmo dos apetites e emoções.
Seria a autonomia então uma vontade totalmente espontânea? Sim, se a entendermos como uma
vontade que não pertence a uma cadeia causal anterior a ela. Mas não, se a entendermos como um
capricho ou uma mera preferência. Para Kant, a vontade genuinamente livre não pode ser um capricho,
mas deve receber a forma de uma lei universal, signo da própria razão.
Outras elaborações da autonomia dão menos peso a essa razão depurada de influências emocionais, e
atenta apenas à universalidade de sua forma, independente do conteúdo que receba. Não precisamos,
porém, concordar inteiramente com a argumentação kantiana para reconhecer a importância da idéia de
autonomia para nossa vida ética.
 RESPONSABILIDADE
Se a autonomia significa o início da obra, a responsabilidade significa a assinatura dela tão
logo ganhe o mundo. A responsabilidade é uma conseqüência direta dessa idéia de autoria da
ação.
Se me sinto capaz de iniciar uma ação, independente de outros fatores que venham a
concorrer para a sua realização no mundo, devo ser capaz também de responder por, pelo
menos, parte de suas conseqüências – ou seja, aquelas em que for possível identificar um

vínculo com minha autoria. Não podemos controlar todas as conseqüências de nossos gestos,
mas temos que nos responsabilizar por aquelas decorrentes diretamente de nossa ação.
Isso indica um aspecto importante da responsabilidade que nos remete outra vez à deliberação
e à escolha.
POR QUÊ?
A deliberação discrimina alternativas, ainda que precárias e incertas. Algumas alternativas,
inclusive, podem ser mais prováveis que outras. Mesmo que a dúvida represente possibilidade
de erro, a escolha deve finalizar a deliberação.
De fato, algo poderá dar errado, mesmo que a escolha tenha sido a melhor possível, dadas as
circunstâncias e a urgência do ato. A escolha é, portanto, um salto arriscado.
SER RESPONSÁVEL É ASSUMIR ESSE RISCO E IR EM FRENTE.


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
1) Sobre a natureza da moralidade de um modo geral, ver de R.M. Hare, Ética – Problemas e
Propostas (São Paulo: Edunesp, 2004). Ver também a coletânea de artigos A Companion to
Ethics, organizada por Peter Singer (Oxford: Blackwell, 1991); o Dicionário de ética e Filosofia
Moral, organizado por Monique Canto- Sperber (São Leopoldo, RS Unisinos, 2003; 2 vols.) e
da mesma autora e de R. Ogien, ver Que devo fazer? (São Leopoldo, RS: Ed. Unisinos, 2004).
2) Sobre a ética das virtudes, ver a coletânea Virtue Ethics (nova York Oxford Univ Press,
1997), organizada por R. Crisp e M. Slote. Para uma crítica da filosofia moderna, por
supostamente ter colocado em segundo plano a ética das virtudes, ver de A Macintyre. Depois
da Virtude (Bauru, SP: Edusc, 2001).
3) Sobre deliberação e escolha, ver de P. Aubenque, A Prudência em Aristóteles (São Paulo:
Edusp,) especialmente o capítulo III.
4) Sobre a origem e desenvolvimento da idéia de autonomia moral, ver de J.B. Schnnewind, A
Invenção da Autonomia (São Leopoldo, RS: ED. Unisinos, 2001).

ADM - Textos – SEMANA 26/11 a 30/11/2012




Caros alunos,
Os textos a seguir servem de base para o acompanhamento das aulas, para o auto-estudo e preparação para as nossas avaliações.
O material está divido em leituras obrigatórias, utilizadas nas atividades em sala de aula e no auto-estudo, e em leituras complementares com informações relevantes para a compreensão e fixação do conteúdo abordado na sala de aula.
Boa leitura e bons estudos.


Administração Científica


A administração científica é um modelo de administração criado pelo americano Frederick Winslow Taylor no fim do século XIX e início do século XX e que se baseia na aplicação do método científico na administração com o intuito de garantir o melhor custo/benefício aos sistemas produtivos.

Frederick Taylor
Taylor procurava uma forma de elevar o nível de produtividade conseguindo que o trabalhador produzisse mais em menos tempo sem elevar os custos de produção. Assim, ele observou que os sistemas administrativos da época eram falhos. A falta de padronização dos métodos de trabalho, o desconhecimento por parte dos administradores do trabalho dos operários e a forma de remuneração utilizada foram as principais falhas estudadas por Taylor.
Assim, em 1903, ele publica o livro “Administração de Oficinas” onde expõe pela primeira vez suas teorias. Taylor propõe a racionalização do trabalho por meio do estudo dos tempos e movimentos. O trabalho deveria ser decomposto, analisado e testado cientificamente e deveria ser definida uma metodologia a ser seguida por todos os operários com a padronização do método e das ferramentas.
Os operários deveriam ser escolhidos com base em suas aptidões para a realização de determinadas tarefas (divisão do trabalho) e então treinados para que executem da melhor forma possível em menos tempo. Taylor, também, defende que a remuneração do trabalhador deveria ser feita com base na produção alcançada, pois desta forma, ele teria um incentivo para produzir mais.
Princípios da Administração Científica
Em seu segundo livro “Principles of Scientific Management” (Princípios de Administração Científica), publicado em 1911, Taylor apresenta seus estudos, porém com maior ênfase em sua filosofia, e introduz os quatro princípios fundamentais da administração científica:
Princípio de planejamento – substituição de métodos empíricos por procedimentos científicos – sai de cena o improviso e o julgamento individual, o trabalho deve ser planejado e testado, seus movimentos decompostos a fim de reduzir e racionalizar sua execução.
Princípio de preparo dos trabalhadores – selecionar os operários de acordo com as suas aptidões e então prepará-los e treiná-los para produzirem mais e melhor, de acordo com o método planejado para que atinjam a meta estabelecida.
Princípio de controle – controlar o desenvolvimento do trabalho para se certificar de que está sendo realizado de acordo com a metodologia estabelecida e dentro da meta.
Princípio da execução – distribuir as atribuições e responsabilidades para que o trabalho seja o mais disciplinado possível.
A teoria proposta por Taylor e que causou uma verdadeira revolução no sistema produtivo seguiu sendo aperfeiçoada ao longo dos anos apesar das críticas e é sem dúvida alguma a precursora da Teoria Administrativa. Contribuíram para o desenvolvimento da administração científica: Frank e Lilian Gilbreth que se aprofundaram nos estudos dos tempos e movimentos e no estudo da fadiga propondo princípios relativos à economia de movimentos; Henry Grant que trabalhou o sistema de pagamento por incentivo; Harrington Emerson que definiu os doze princípios da eficiência; Morris Cooke que estendeu a aplicação da administração científica à educação e às administrações públicas; e Henry Ford que criou a linha de montagem aplicando e aperfeiçoando o princípio da racionalização proposto por Taylor.
As principais críticas a administração científica (AC) de Taylor são:
• Para os críticos a AC transformou o homem em uma máquina. O operário é tratado como apenas uma engrenagem do sistema produtivo, passivo e desencorajado de tomar iniciativas.
• A padronização do trabalho seria mais uma intensificação deste do que uma forma de racionalizar o trabalho;
• A superespecialização do operário facilita o treinamento e a supervisão do trabalho, porém, isso reduz sua satisfação e ele adquire apenas uma visão limitada do processo;
• A AC não leva em conta o lado social e humano do trabalhador. A análise de seu desempenho leva em conta apenas as tarefas executadas na linha de produção;
• A AC propõe uma abordagem científica para a administração, no entanto, ela mesma carece de comprovação científica e teve sua formulação baseada no conhecimento empírico;
• A AC se restringe apenas aos aspectos formais da organização não abrangendo por exemplo o conflito que pode haver entre objetivos individuais e organizacionais;
• A AC trata da organização como um sistema fechado sem considerar as influências externas.
Fontes
COELHO. José Márcio; GONZAGA. Ricardo Martins; Administração Científica de Taylor: O Homem do Tempo. Acessado em:
http://www.administradores.com.br
LLATAS. Dra. Maria Virginia; Administração Científica de Taylor. Acessado em:
Administração Científica de Taylor.ppt


Teoria do Processo Administrativo
Os Princípios da Administração
Segundo Maximiano (2004), para entender o que significa Administração, é preciso ir além da interpretação da palavra. É preciso compreender o papel que a administração desempenha para as organizações e para a sociedade.
Conforme Maximiano (2004), podemos definir Administração a partir de objetivos, decisões e recursos, estas são palavras-chave. Administração é o processo de tomar e colocar em prática decisões sobre objetivos e utilização de recursos. O processo administrativo abrange quatro tipos principais de decisões, também chamados de processos ou funções: planejamento, organização, execução e controle. As decisões resumem os Princípios de Administração.
Esse conceito de administração foi desenvolvido para aplicação em empresas, mas ele pode ser estendido a qualquer outra situação onde ocorra trabalho, seja no âmbito empresarial, em atividades autônomas, em órgãos públicos ou até em atividades domésticos. Portanto, sempre que se mencionar a palavra empresa, deve ser entendido trabalho.
A tarefa da administração é interpretar os objetivos propostos pela empresa e transformá-los em ação empresarial através de planejamento, organização, direção e controle de todos os esforços realizados em todas as áreas e em todos os níveis da empresa, a fim de atingir tais objetivos. Planejamento, organização, controle e direção são as quatro principais funções administrativas.
Por englobar atividades dinâmicas, a administração é um processo, inerente a qualquer situação em que haja recursos que procuram atingir algum tipo de objetivo. Assim sendo, as quatro funções administrativas, que transcorrem em ordem aproximadamente seqüencial, constituem o chamado Processo Administrativo.
Frederick Taylor, já na escola de Administração Científica, utilizava quatro princípios básicos: planejamento, preparo (hoje, organização), controle e execução. Como veremos a seguir, estes princípios eram considerados em relação à tarefa. Henry Fayol empregava, embora em relação às tarefas administrativas, os princípios previsão, organização, comando, coordenação e controle. A evolução das teorias trouxe, naturalmente, uma evolução na conceituação dos princípios de administração. Assim sendo, hoje, quatro princípios são considerados de fundamental importância nas Teorias da Administração, conforme mostrado de modo esquemático pela Fig. 4.
Fig. 4 – Funções administrativas
Deve-se destacar, também, que estes princípios, com elevada probabilidade, terão importância cada vez mais acentuada. Detalharemos cada um destes itens para evidenciar a importância de seu conhecimento para a gestão das organizações sob a perspectiva de quaisquer das Teorias da Administração.
Deve-se destacar, também, que estes princípios, com elevada probabilidade, terão importância cada vez mais acentuada. Detalharemos cada um destes itens para evidenciar a importância de seu conhecimento para a gestão das organizações sob a perspectiva de quaisquer das Teorias da Administração.
Planejamento
Segundo Chiavenato (1995) o planejamento é a função administrativa que determina antecipadamente o que se deve fazer e quais objetivos devem ser alcançados, e visa dar condições racionais para que se organize e dirija a empresa ou seus departamentos ou divisões a partir de certas hipóteses a respeito da realidade atual e futura.
A elaboração do planejamento evita a adoção de ações improvisadas, casuais, contribuindo para reduzir o nível de incerteza e possibilitando maior segurança quanto ao desempenho da empresa. O planejamento, segundo Chiavenato (1995) apresenta as seguintes características:
a) é um processo permanente e contínuo, pois é realizado de forma sistemática dentro da empresa e não se esgota na simples montagem de um plano de ação; b) é sempre voltado para o futuro e está intimamente ligado com a previsão, embora não se confunda com ela. O conceito de planejamento inclui o aspecto de temporalidade e futuro: o planejamento é uma relação entre coisas a fazer e o tempo disponível para fazê-las; c) se preocupa com a racionalidade da tomada de decisões, pois ao estabelecer esquemas para o futuro funciona como um meio de orientar o processo decisório, dando-lhe maior racionalidade e subtraindo incerteza subjacente a qualquer tomada de decisão; d) visa relacionar, entre várias alternativas disponíveis, um determinado curso de ação, em função de suas conseqüências futuras e das possibilidades de sua execução e realização. O curso de ação escolhido pode ter uma duração variável - desde curto à longo prazo - e pode ter uma amplitude igualmente variável - abrangendo a empresa como um todo até uma determinada unidade de trabalho; e) é sistêmico, pois deve considerar a empresa ou o órgão ou a unidade como uma totalidade. O planejamento deve considerar tanto o sistema como os subsistemas que o compõem, bem como as relações e compromissos internos e externos; f) é interativo. Como o planejamento se projeta para o futuro, ele deve ser suficiente e prudentemente flexível para aceitar ajustamentos e correções. Pressupõe avanços e recuos, alterações e modificações em função de eventos novos, ou diferentes que ocorram tanto no ambiente interno quanto externo da empresa; g) é uma técnica de alocação de recursos de forma antecipadamente estudada e decidida. Deverá refletir a otimização na alocação e dimensionamento dos recursos com os quais a empresa ou o órgão dela poderá contar no futuro para suas operações; h) é uma técnica cíclica. A medida que é executado, passa a ser realizado. Conforme vai sendo executado e realizado, permite condições de avaliação e mensuração para novos planejamentos, com informações e perspectivas mais seguras e corretas; i) é função administrativa que interage dinamicamente com as demais. Está intimamente relacionado com as demais funções administrativas, como a organização, o controle e a avaliação, influenciando e sendo influenciado por elas, a todo o momento e em todos os níveis da empresa; j) é uma técnica de coordenação. Permite a coordenação de varias atividades no sentido da realização dos objetivos desejados e de maneira eficaz; l) é uma técnica de mudança e inovação. O planejamento é uma das melhores maneiras de se introduzir deliberadamente mudança e inovação dentro de uma empresa, sob uma forma previamente definida e escolhida e devidamente programada.
O Planejamento pode ser considerado em função do nível da empresa, conforme ilustra a figura a seguir:
O planejamento estratégico, em linhas gerais, é aquele efetuado no nível institucional da empresa, envolvendo a alta administração. É genérico e sintético, direcionado para longo prazo e considera a empresa como uma totalidade.
O planejamento tático é efetuado no nível intermediário da empresa, envolvendo a gerência. É menos genérico, e mais detalhado, direcionado para médio prazo e considera cada unidade da empresa.
O planejamento operacional é o efetuado no nível operacional da empresa, envolvendo a supervisão. É detalhado e analítico, direcionado para o curto prazo e considera cada tarefa ou operação.
O planejamento operacional está voltado para o que fazer, como fazer, e para quem fazer, procurando otimizar e maximizar os resultados. Este tipo de planejamento deve ser intrinsecamente relacionado ao planejamento tático, o mesmo ocorrendo com este em relação ao planejamento estratégico.
Organização
Chiavenato (1995) define a organização como uma função administrativa através da qual a empresa reúne e integra os seus recursos, define a estrutura de órgãos que deverão administrá-los, estabelece a divisão de trabalho através da diferenciação, proporciona os meios de autoridade e de responsabilidade e, assim por diante. A organização representa, no fundo, todos aqueles meios que a empresa utiliza para pôr em prática o planejamento, o controle e a avaliação para atingir os seus objetivos.
Como já foi enfatizado, a função administrativa organizacional depende do planejamento, do controle e da direção. Há uma estreita inter-relação entre todas estas funções.
A função administrativa organizacional normalmente é implementada de acordo com as peculiaridades de cada empresa, que pode considerar seus recursos (humanos, materiais e organizacionais) e sua estrutura. Como ocorre com a função planejamento, a função organização também pode ser analisada em função dos diferentes níveis - institucional, intermediário e operacional - da empresa.
Direção
Do ponto de vista didático, a função administrativa direção vem após o planejamento e a organização. Assim, enquanto o planejamento estabelece o que fazer e como fazer e para quem, a organização estabelece a estrutura, os meios para a execução, a direção se preocupa com a execução das operações propriamente ditas, tendo em vista o alcance dos objetivos.
A Direção é, inegavelmente, uma das complexas funções da administração. Isto se deve à sua abrangência e ao fato de estar intimamente relacionado às pessoas.
A execução de qualquer ação envolve sempre pessoas e grupos. Toda a implementação do planejamento e da organização é efetuada por um conjunto de pessoas, normalmente, são os recursos mais complexos existentes nas empresas.
A Direção é a função que envolve a maior interação humana. Como assegura Chiavenato (1995), “é a função que exige a maior dose de flexibilidade, de amortecimento de impactos e, principalmente, de orientação das pessoas quanto ao rumo certo no alcance dos objetivos pretendidos”.
A Direção é extremamente dinâmica, ocorre em todos os níveis da empresa e está relacionada ao planejamento, à organização e ao controle. Como a função Direção diz respeito ao processo de interação entre pessoas, três assuntos inerentes a ela são de capital importância: comunicação, liderança e motivação.
Assim sendo, para dirigir pessoas são necessários profundos conhecimentos a respeito do processo de comunicação, das teorias de liderança e da motivação. Como nas funções planejamento e organização, a direção pode ser considerada em função dos níveis da empresa: institucional, intermediário e operacional.
Controle
O termo controle tem muitos significados e, não raro, se associa a atitudes coercitivas, principalmente quando envolve pessoas. O controle deve ser entendido como uma função administrativa, como o planejamento, a organização e a direção.
Os autores Koontz e O’Donnel (1998) especificam que controle é a função administrativa que consiste em medir e corrigir o desempenho de colaboradores para assegurar que os objetivos da empresa e os planos delineados para alcançá-los sejam realizados. É, pois, a função segundo a qual cada administrador, do presidente ao supervisor, certifica-se de que aquilo que é feito está de acordo com o que se tencionava fazer.
Em termos de controle operacional, Litterer (1990) propõe um modelo básico que compreende três fases:  a) coleta de dados sobre o desempenho; b) comparação dos dados com um padrão; c) ação corretiva.
Certamente, cada uma destas fases pode ser desenvolvida através de diversas formas, que sempre devem considerar as peculiaridades de cada empresa.


A Teoria das Relações Humanas
A Teoria das Relações Humanas, ou Escola das Relações Humanas, é um conjunto de teorias administrativas que ganharam força com a Grande Depressão criada na quebra da bolsa de valores de Nova Iorque, em 1929.
Essas teorias criam novas perspectivas para a administração, visto que busca conhecer as atividades e sentimentos dos trabalhadores e estudar a formação de grupos. Até então, o trabalhador era tratado pela Teoria Clássica de forma muito mecânica. Com os novos estudos o foco mudou e do Homo economicus o trabalhador passou a ser visto como homos social.
A partir daqui começa-se a pensar na participação dos funcionários na tomada de decisões e na disponibilização das informações para eles.
Experiência de Hawthorne
A Escola das Relações Humanas surgiu efetivamente com a Experiência de Hawthorne, realizada em uma fábrica no bairro que dá nome a pesquisa, em Chicago, EUA.
O médico e sociólogo australiano Elton Mayo, fez testes na linha de produção, na busca por variáveis que influenciassem, positiva ou negativamente, na produção.
Mayo fez estudos sobre a influência da luminosidade, do trabalho em grupo, da qualidade do ambiente e descreveu-as afirmando que o cuidado com os aspectos sociais era favorável aos empresários.
A experiência foi dividida em fases, a saber:
Na primeira fase, os pesquisadores observavam dois grupos de trabalhadores que executavam o mesmo serviço, porém em iluminações diferentes. Um grupo trabalhava sob iluminação constante enquanto outro trabalhava sob iluminação variável. Perceberam que o fator psicológico influenciava na produção, quando a iluminação aumentava produziam mais e quando a iluminação diminuía produziam menos.

Na segunda fase, os pesquisadores mudaram o local de trabalho, a forma de pagamento, estabeleceram pequenos intervalos de descanso e distribuíam lanches leves nesses intervalos. Perceberam então que, os trabalhadores apresentaram maior rendimento na produção, pois trabalhavam satisfeitos.
Na terceira fase, os pesquisadores se preocuparam com as relações entre funcionários e os entrevistaram para conhecer suas opiniões, pensamentos e atitudes acerca de punições aplicadas pelos superiores e pagamentos, descobriram uma espécie de organização informal dentro da organização que se manifestava por padrões formados pelos próprios trabalhadores.
Na quarta fase, os pesquisadores analisaram a organização informal, fizeram pagamentos de acordo com a produção do grupo e não mais individualmente. Perceberam que os trabalhadores tornaram-se mais solidários.
Concluíram que:
·         O nível de produção é determinado pela expectativa do grupo, pelos benefícios cedidos pela organização, como intervalos de descanso e refeições durante esses e sábado livre.
·         Os trabalhadores esperavam ser reconhecidos, compreendidos e aceitos e produziam mais quando estavam entre seu grupo informal.
Com as conclusões iniciais tomadas a partir da Experiência de Hawthorne, novas variáveis são acrescentadas ao dicionário da administração:
  • a integração social e comportamento social dos empregados;
  • as necessidades psicológicas e sociais e a atenção para novas formas de recompensa e sanções não-materiais;
  • o estudo de grupos informais e da chamada organização formal;
  • o despertar para as relações humanas dentro das organizações;
  • a ênfase nos aspectos emocionais e não-racionais do comportamento das pessoas;
  • a importância do conteúdo dos cargos e tarefas para as pessoas;
Críticas à Teoria das Relações Humanas
As principais críticas a essa escola é de que:
  • Ela apresenta uma visão inadequada dos problemas de relações industriais - em alguns aspectos a experiência de Hawthorne foi insegura e artificial e mesmo tendenciosa; alguns estudiosos acreditam que a origem esteja no fato de ser a teoria das relações humanas em produto da ética e do princípio democrático então existente nos Estados Unidos;
  • Oposição cerrada à teoria clássica - Tudo aquilo que esta preconizava, a teoria das relações humanas negava;
  • Limitação no campo experimental e parcialidade nas conclusões levaram gradualmente a teoria a um certo descrédito;
  • A concepção ingênua e romântica do operário - as pessoas que seguiram demonstraram que nem sempre isto ocorreu;
  • A ênfase exagerada nos grupos informais colaboraram rapidamente para que esta teoria fosse repensada;
  • O seu enfoque manipulativo e certamente demagogo não deixou de ser descoberto e identificado pelos operários e seus sindicatos;
Ao receber tantas críticas, a Teoria das Relações Humanas precisou de uma reestruturação que deu origem a Teoria Comportamental.

Teoria Comportamental da Administração
A Teoria Comportamental (Behaviorista) da Administração veio significar uma nova direção e um novo enfoque dentro da teoria administrativa: a abordagem das ciências do comportamento, estudando a motivação humana (suas necessidades básicas), definindo estilos de administração, caracterizando as organizações como sistemas sociais cooperativos e como sistemas de decisões.
Novas Proposições Sobre a Motivação Humana
O homem é considerado um animal complexo dotado de necessidades complexas e diferenciadas. Segundo os autores behavioristas, o administrador precisa conhecer as necessidades humanas para melhor compreender o comportamento humano e utilizar a motivação humana como poderoso meio para melhorar a qualidade de vida nas organizações.
Hierarquia das Necessidades de Maslow
Abraham H. Maslow, psicólogo e consultor americano, apresentou uma teoria da motivação segundo a qual as necessidades humanas estão dispostas em níveis, numa hierarquia de importância e influência. Nessa hierarquia das necessidades (pirâmide de Maslow), encontram-se cinco níveis de necessidades:
1. Necessidades Fisiológicas: Necessidades de alimentação, sono e repouso, de abrigo, desejo sexual, etc. Esse grupo de necessidades está relacionado com a sobrevivência do indivíduo e com a preservação da espécie.
2. Necessidades de Segurança: Necessidades de segurança, estabilidade, busca de proteção contra a ameaça ou privação, e a fuga ao perigo.
3. Necessidades Sociais: necessidade de associação, de participação, de aceitação por parte dos companheiros, de troca de amizade, de afeto e amor.
4. Necessidades de Estima: Relacionadas com a maneira pela qual a pessoa se vê e se avalia. Envolvem a auto-apreciação, a autoconfiança, a necessidade de aprovação social e de respeito, de status, prestígio e consideração.
5. Necessidades de Auto-realização: São as necessidades humanas mais elevadas e que estão no topo da hierarquia. São as necessidades de cada pessoa realizar o seu próprio potencial e de autodesenvolver-se continuamente (ser constantemente mais do que é - vir a ser tudo o que pode ser).
Necessidades Primárias: Necessidades fisiológicas e Necessidades de segurança
Necessidades Secundárias: Necessidades sociais, Necessidade de estima e Necessidades de auto-realização
A teoria da hierarquia das necessidades de Maslow pressupõe os seguintes aspectos:
1. Somente quando um nível inferior de necessidades está satisfeito ou adequadamente atendido é que o nível imediatamente mais elevado surge no comportamento.
2. Nem todas as pessoas conseguem chegar ao topo da pirâmide de necessidades.
3. Quando as necessidades mais baixas estão razoavelmente satisfeitas, as
necessidades localizadas nos níveis mais elevados começam a dominar o comportamento. Contudo, quando uma necessidade de nível mais baixo deixa de ser satisfeita, ela volta a predominar no comportamento, enquanto gerar tensão no organismo.
4. Cada pessoa possui sempre mais de uma motivação. Toda necessidade está intimamente ligada com o estado de satisfação ou insatisfação de outras necessidades. Seu efeito sobre o organismo é sempre global e nunca isolado.
5. Qualquer comportamento motivado é um canal pelo qual muitas necessidades fundamentais podem ser expressas ou satisfeitas conjuntamente.
6. Qualquer frustração ou possibilidade de frustração de certas necessidades passa a ser considerada ameaça psicológica. Essa ameaça é que produz as reações gerais de emergência no comportamento humano.
Várias pesquisa não chegaram a provar cientificamente a teoria de Maslow e algumas delas até a invalidaram. Contudo, a teoria de Maslow é bem estruturada suficientemente para poder oferecer um esquema orientador e útil para o comportamento do administrador.
Leitura Complementar
Enriquecimento de tarefas (Herzberg)
O enriquecimento de tarefas (job enrichment) consiste em uma constante substituição de tarefas mais simples e elementares do cargo por tarefas mais complexas, a fim de acompanhar o crescimento individual de cada empregado, oferecendo-lhe condições de desafio e de satisfação profissional no cargo. Segundo Herzberg, o enriquecimento de tarefas traz efeitos altamente desejáveis, como o aumento da motivação, aumento de produtividade, redução do absenteísmo (faltas e atrasos ao serviço) e redução da rotatividade de pessoal (demissões de empregados).
Estilos de Administração
A Teoria Comportamental procurou demonstrar a variedade de estilos de administração que estão à disposição do administrador. A administração das organizações em geral (e das empresas em particular) está fortemente condicionada pelos estilos com que os administradores dirigem, dentro delas o comportamento das pessoas. Por sua vez os estilos de administração dependem substancialmente das convicções que os administradores têm a respeito do comportamento humano dentro das organizações. Essas convicções moldam não apenas a maneira de conduzir as pessoas, mas também a maneira pela qual se divide o trabalho, se planejam e se organizam as atividades.Mc Gregor preocupou-se em comparar dois estilos opostos e antagônicos de administrar, que denominou de Teoria X e Teoria Y. Vejamos abaixo os pressupostos a respeito do comportamento humano existentes em cada uma dessas teorias:
Pressuposições da Teoria X
Pressuposições da Teoria Y
·         As pessoas são preguiçosas e indolentes
·         As pessoas evitam o trabalho
As pessoas evitam a responsabilidade a fim de se sentirem mais seguras
As pessoas precisam ser controladas e dirigidas
·         As pessoas são ingênuas e sem iniciativa
·         As pessoas são esforçadas e gostam de ter o que fazer
O trabalho é uma atividade tão natural quanto brincar ou descansar
·         As pessoas procuram e aceitam responsabilidades e desafios
As pessoas podem ser automotivadas e autodirigidas
·         As pessoas são criativas e competentes
A Teoria Y desenvolve um estilo de administração muito aberto e dinâmico, extremamente democrático, através do qual administrar é um processo de criar oportunidades, liberar potenciais, remover obstáculos, encorajar o crescimento individual e proporcionar orientação quanto a objetivos. Segundo Mc Gregor, a teoria Y é geralmente aplicada nas empresas através de um estilo de direção baseado em uma série de medidas inovadoras e humanistas, dentre as quais salienta as seguintes:
a)      Descentralização das decisões e delegação de responsabilidades;
b)      Ampliação do cargo para maior significado do trabalho;
c)      Participação nas decisões mais altas e administração consultiva;
d)      Auto-avaliação do desempenho.
Sistemas de Administração
Rensis Likert, outro autor da Teoria Comportamental da Administração propõe uma classificação de Sistemas de Administração, definindo quatro perfis organizacionais, caracterizados através de quatro variáveis: processo decisorial, sistema de comunicação, relacionamento interpessoal e sistema de recompensas e punições. Vejamos no quadro abaixo esses sistemas, bem como suas vantagens e desvantagens, e tipos de empresas onde eles são mais frequentes.
Organização como um Sistema Social Cooperativo
As organizações são sistemas sociais baseados na cooperação entre as pessoas. Uma organização somente existe quando ocorrem três condições: (1) interação entre duas ou mais pessoas; (2) desejo e disposição para a cooperação; e (3) finalidade de alcançar um objetivo comum.As pessoas não atuam isoladamente, mas através de interações com outras pessoas, para poderem alcançar da melhor maneira os seus objetivos. A organização oferece uma variedade de incentivos, como salários, benefícios sociais, oportunidades de crescimento, de consideração, de prestígio ou poder pessoal, de condições físicas adequadas de trabalho, para obter a cooperação das pessoas em todos os níveis hierárquicos.A função do executivo, isto é, de cada administrador dentro da organização, é a de criar e manter um sistema de esforços cooperativos, atividade essencial para a sobrevivência das organizações.
Processo Decisorial
A Teoria Comportamental concebe e organização como um sistema de decisões, ou seja, todas as pessoas dentro de uma organização, em todas as áreas de atividades, em todos os níveis hierárquicos e em todas as situações estão continuamente tomando decisões relacionadas ou não com o seu trabalho.
Teoria das Decisões
Decisão é o processo de análise e escolha, entre várias alternativas disponíveis, do curso de ação que a pessoa deverá seguir. O processo decisorial é complexo e depende tanto das características pessoais do tomador de decisões quanto da situação em que está envolvido e da maneira como percebe essa situação. A rigor, o processo decisorial envolve sete etapas demonstradas na figura abaixo.Cada uma dessas etapas influencia as demais e todo o conjunto do processo. Nem sempre essas sete etapas são seguidas à risca. Se a pressão for muito forte para uma solução imediata, as etapas 3, 5 e 7 podem ser abreviadas ou suprimidas. Quando não há nenhuma pressão, elas podem ser ampliadas por tempo indeterminado.
Decorrências da Teoria das Decisões
Simon salienta que o processo decisorial começa com o indivíduo e permite-lhe solucionar problemas ou defrontar-se com situações. Como a subjetividade nas situações é muito acentuada, Simon enumera algumas decorrências da Teoria das Decisões:
a) Racionalidade Limitada: O indivíduo que vai decidir raramente possui todas as informações necessárias para tomar a melhor decisão.
b) Imperfeição nas decisões: não existem decisões perfeitas. Umas são melhores que outras.
c) Relatividade das decisões: toda decisão é uma acomodação, pois a alternativa escolhida jamais permite uma realização perfeita ou completa dos objetivos visados. O nível de realização é satisfatório e não ótimo.
d) Hierarquia das Decisões: O comportamento é planejado sempre que é guiado por objetivos e é racional quando escolhe as alternativas mais adequadas que levam à consecução dos objetivos (Meio x Fim).
e) Racionalidade Administrativa: O comportamento dos indivíduos nas organizações é planejado, isto é, orientado no sentido de alcançar objetivos.
f) Influência Organizacional: A organização retira de seus participantes a faculdade de decidir independentemente sobre certos assuntos e a substitui por um processo decisório próprio e previamente estabelecido.
Homem Administrativo
A Teoria Comportamental nos traz um novo conceito de homem. Para esses autores, o homem procura a maneira satisfatória e não a melhor maneira de fazer um trabalho. O comportamento administrativo é satisfaciente e não otimizante, pois o homem administrativo toma decisões sem poder procurar todas as alternativas possíveis: não procura o máximo lucro, mas o lucro adequado; não o preço ótimo, mas o preço razoável.
Comportamento Organizacional
Comportamento Organizacional é o estudo da funcionamento e da dinâmica das organizações e como os grupos e os indivíduos se comportam dentro delas. Como a organização é um sistema cooperativo racional, ela somente pode alcançar seus objetivos se as pessoas que a compõem coordenarem seus esforços a fim de alcançar algo que individualmente jamais conseguiriam. Assim surge uma interação entre as pessoas e organização, a que se dá o nome de processo de reciprocidade: a organização espera que as pessoas realizem suas tarefas e concede-lhes incentivos e recompensas, enquanto as pessoas oferecem suas atividades e trabalho esperando certas satisfações pessoais.A decisão de participar é parte essencial da teoria do equilíbrio organizacional. O equilíbrio reflete o êxito da organização em remunerar seus participantes com quantias adequadas (sejam de dinheiro ou de satisfações não-materiais) e motivá-los a continuarem fazendo parte da organização, garantindo com isto sua sobrevivência.
Conflito entre os Objetivos Organizacionais e os Objetivos Individuais
Um dos temas preferidos pelos behavioristas é o conflito entre os objetivos que as organizações procuram atingir e os objetivos que individualmente cada participante pretende alcançar.A interdependência entre as necessidades do indivíduo e as da organização é imensa: a vida e os objetivos de ambos estão inseparavelmente entrelaçados. O importante é que o alcance do objetivo de uma das partes nunca venha a prejudicar ou a tolher o alcance do objetivo de outra. Ambas as partes devem contribuir mutuamente para o alcance de seus respectivos objetivos.

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